Não é de hoje que artifícios sujos como “fake news” e “assassinato de
reputações” são utilizados contra inimigos; nem mesmo os santos escaparam. Esse
o caso da história de São Cirilo e Hipátia.
Hipátia foi uma filósofa e matemática pagã que viveu em Alexandria na
mesma época em que São Cirilo era o patriarca. Seus ensinamentos devem ter tido
grande influência social, de modo que Hipátia fez muitas inimizades em vários
setores da grande metrópole. É verdade que São Cirilo era um desses inimigos
devido às implicações religiosas dessas doutrinas, porém seus embates com
Hipátia ficavam no campo das ideias, do debate, da pregação.
O fato é que a filósofa foi brutalmente assassinada por um grupo de
homens liderados por um cristão, que para maior escândalo de todos, exercia o
ministério litúrgico de leitor. De toda forma as fontes mais antigas mostram que
a motivação para o crime foi eminentemente política e não religiosa. O santo
patriarca prontamente condenou a ação dizendo que não é assim que os cristãos
tratam os inimigos.
Aproveitando-se da enorme repercussão, os hereges arianos e nestorianos
não tardaram em insinuar através de seus escritos que o crime teria sido ao
menos aprovado por São Cirilo. Séculos depois alguns protestantes retomaram a
narrativa. Com o intuito de colocar em dúvida as canonizações católicas,
passaram a mostrar Cirilo como incentivador do assassinato. Como um santo
poderia ser cúmplice de ato tão cruel?
Mas a pior campanha de difamação aconteceu pela pena dos iluministas
anticlericais e naturalistas (entre eles, Voltaire) no século XVIII. São Cirilo
passou a ser retratado como mandante do crime, que teria sido perpetrado por
uma horda de monges fanáticos. A ideia era mostrar como a religião é inimiga da
razão.
Assim se consolidou a mentira no imaginário popular e o piedoso bispo é
conhecido por muitos hoje em dia como um assassino sanguinário. Nada mais longe
da verdade.
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